É razoável a tua ira?
- indaiatubapibi
- 8 de out. de 2024
- 8 min de leitura

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Você já ficou contrariado com a vontade de Deus? Contrariado com a forma de Deus agir que se choca com a sua vontade? Talvez perdoar um marido/esposa que pisou na bola, você sabe que a vontade de Deus é o perdão, mas reluta em cumprir a vontade dEle. Quem sabe negar em agir com misericórdia com aquelas pessoas que te fazem mal. Ou até mesmo recusar a fazer o bem para alguém que você sabe que não merece.
Chegamos ao final da nossa exposição do livro de Jonas. Esse livro é espetacular! E ainda mais incrível é o cap. 4.
Em Jonas aprendemos que é possível fazer muitas coisas para Deus, mas com o coração muito distante dEle!
No cap. 4 do livro de Jonas, Deus ainda ia tratar com o coração de Jonas. Incrivelmente a reação de Jonas ao arrependimento de Nínive foi muito negativo. Ele ficou tão irado que pediu até mesmo para morrer. Por quê? Por que essa reação tão adversa? Qual o motivo de tanta contrariedade? É no cap. 4 que vemos o ápice de toda narrativa do livro de Jonas e nos maravilhamos com a mensagem de Deus para nós. Então, prepare-se, vamos juntos para o Texto e ver o que Deus ensinou a Jonas e ensina a cada um de nós.
Veja que nos v. 2 e 3, Jonas se dirigiu a Deus em oração:
“E orou ao SENHOR, e disse: Ah! SENHOR! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal. Peço-te, pois, ó SENHOR, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver.”
Perceba, Jonas ficou irado porque Deus decidiu agir com misericórdia para com os ninivitas. E a sua ira foi tão grande que ele desejou morrer a ver a sobrevivência de Nínive.
Mas, por que isso causaria tanta indignação a Jonas? Isso não seria motivo de alegria? Celebração pelo arrependimento do pecador? Celebração pelo perdão concedido? Celebração pela conservação da vida?
Bem, existe algo muito sutil aqui na oração de Jonas. Ele não revelou a Deus o motivo da sua ira. Já pensou nisso? Ele diz que fugiu para Tarsis porque sabia que o Senhor é misericordioso e se compadeceria dos Ninivitas. Entretanto, ele não diz o porquê de se irar tanto com a decisão de Deus em se compadecer daquele povo.
O real motivo ainda estava no porão do coração de Jonas. Foi exatamente sobre isso então que Deus tratou com Jonas.
Veja no v.4, a pergunta que Deus fez a Jonas: “E disse o SENHOR: É razoável a tua ira?”
Esta é uma pergunta que encorajou Jonas a refletir sobre os verdadeiros motivos, as raízes da sua ira.
Acredito que esse seja um bom exercício para nós também. Pensemos sobre as nossas tristezas, angústias, iras, indignações. Normalmente lutamos com esses sentimentos. Queremos minimizar o desconforto que eles nos trazem e fazemos isso de diversas maneiras, hora com terapias e medicamentos, hora negando-os. Entretanto, dificilmente vamos à raiz do problema. Dificilmente vamos aquilo que escondemos nos porões de nosso coração.
Seria muito bom que fizéssemos essa mesma pergunta para o nosso coração: “É razoável a tua ira?”. Ela nos ajuda a descobrir a verdadeira raiz, a fonte do nosso estado de alma. Em muitas ocasiões, o motivo da irritação com a esposa é o orgulho; o motivo da impaciência com um irmão é a inveja; o motivo da cobrança demasiada quanto à carreira de um filho é o amor ao dinheiro.
E aí podemos perceber que o que achamos escondido no mais profundo porão de nossa alma, nem sempre é tão nobre como achamos que é.
Bem, Jonas saiu da cidade, sentou-se ao oriente desta cidade; fez uma cabana, e sentou-se debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade.
A ira de Jonas o cegou para o fato de que Deus não iria destruir Nínive. Deus já havia dito que iria ter misericórdia dos ninivitas, mas ainda assim Jonas esperava pela destruição. É aí então que Deus, de maneira compassiva e paciente, ensina a Jonas. Mas ensina de uma maneira muito interessante. De maneira pedagógica Deus mostrou ao próprio Jonas o coração do profeta.
No momento em que Jonas fez uma barraca e esperava pela destruição de Nínive, Deus fez nascer uma aboboreira, provavelmente a palma cristi que é comum no Oriente Médio. Essa planta beneficiou o profeta com sua sombra e Jonas ficou muito feliz.
Entretanto, Deus enviou um verme, o qual fez a planta secar. Depois disso, aparecendo o sol, Deus mandou um vento, e o sol castigou Jonas a tal ponto que ele disse: “Melhor me é morrer do que viver.” (v.8).
Essa é a 2ª vez que Jonas pede para morrer. Isso é muito interessante, você não acha? Deus agiu de maneira pedagógica para levar Jonas a ter o mesmo sentimento que ele teve no v.3, o desejo pela morte.
Agora, seu coração estava aberto mais uma vez e seus olhos estavam prestes a ver o que Deus iria mostrá-lo. Veja que no v.9, Deus faz a mesma pergunta que havia feito antes (no v. 4), só que agora aplicada à aboboreira: “Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira?”
É bem curioso que na primeira pergunta Jonas não respondeu nada. Mas agora ele respondeu. Veja a resposta dele: “Faço bem que me revolte até à morte.”
Sabe aquelas respostas que a gente dá e depois diz: “seria melhor que eu tivesse ficado calado!?!?!” Pois é, mas de toda forma foi bom Jonas responder, porque isso mostrou o seu coração. Ele ficou profundamente desanimado porque ao secar, a aboboreira não pôde mais lhe dar o conforto que ele teve por algum momento.
Jonas se compadeceu, mostrou interesse, teve prazer em uma planta porque ela lhe trouxe algum benefício. Por isso, embora não tenha trabalhado nela, se apegou a ela ao ponto de desejar a própria morte quando Deus fez com que esta se secasse.
Entretanto, o profeta agiu diferente quanto à Nínive. Jonas deveria se alegrar com a preservação dos ninivitas, como se alegrou com a planta. Entretanto, não foi isso que aconteceu. Por quê? Qual é o ponto aqui?
O ponto é que a preservação da planta trazia benefícios para Jonas, mas a preservação de uma nação com 120.000 pessoas e animais, não lhe traria benefício nenhum. Ao contrário, a preservação de Nínive implicaria em juízo para Israel.
Por que juízo para Israel? Porque Israel havia quebrado a aliança com o Senhor, se entregara a idolatria, violência, injustiça e depravação. Diante disso, Deus enviou seus profetas no mesmo tempo de Jonas: Oséias e Amós. Esses profetas profetizaram que Deus enviaria os Assírios (cujo a capital era Nínive) para levar Israel cativo. Veja algumas dessas profecias:
✔ Os 11.5: “Não voltarão para a terra do Egito; mas a Assíria será seu rei; porque recusam converter-se.”
✔ Am 5.27: Por isso eu vos levarei cativos para além de Damasco, diz o SENHOR, cujo nome é o Deus dos Exércitos.
Veja, a despeito disso, de acordo com 2 Rs 14.25, Jonas profetizava a prosperidade de Israel, no tempo do ímpio rei Jeroboão II.
Ou seja, Jonas queria que os ninivitas fossem destruídos porque, se não, eles invadiriam Israel, conforme estava sendo profetizado. Em outras palavras, Jonas estava mais preocupado com o bem-estar material de Israel, do que com a vontade de Deus. Por isso ele reagiu quando foi contrariado.
O coração de Jonas o governava e não Deus. Este também era o coração de Israel. Aliás, este é o nosso próprio coração.
Nós também queremos Deus, mas só ao ponto de que Ele não nos incomode. Que o Senhor me dê uma casa, mas que eu não precise receber os irmãos; que o Senhor me dê conhecimento de Sua Palavra, mas que eu não precise discipular ninguém; que o Senhor me dê filhos, mas que eu não precise ensiná-los a amar ao Senhor e a Igreja; que o Senhor me dê um bom salário, mas que eu não precise ajudar aqueles que estão em necessidade; que o Senhor me dê uma esposa amorosa, divertida, inteligente e gentil, mas que ela não me confronte em meus pecados.
Perdão, misericórdia, graça, compreensão, serviço; dirigimos tudo isso exclusivamente para nós mesmos, para o nosso próprio bem-estar. Por que estamos dispostos a investir na igreja, na iluminação, no som, nas cadeiras, no prédio, na EBD de ponta, em determinados projetos, ideias, e programas, enquanto que não investimos em pessoas e projetos que sabemos que são corretos e justos? Por que a obra missionária recebe tão pouco investimento da nossa parte, enquanto investimos milhões no espaço dos nossos cultos? Por que apoiamos financeiramente o missionário que vai para o Oriente Médio, mas quando o nosso filho fala de ser missionário, ‘aí não’? Por que os irmãos que passam necessidade ao nosso redor são tão desamparados quando gastamos horrores em entretenimento? Por que tantos abortos são feitos hoje? Será que não é porque entende-se que, de alguma forma, aquela criança trará prejuízo à mãe? Aquelas que não fazem aborto, mas ainda assim abandonam seus filhos a terceiros, tem o mesmo coração, querem perseguir seus próprios sonhos, seu próprio conforto, seus próprios planos, e uma criança naquele momento lhes atrapalharia.
Perceba que o nosso coração é o nosso governante e se agarra com todas as forças naquilo que lhe trará algum benefício.
Entretanto, Deus está mais interessado com o nosso coração do que com o nosso conforto. Muitas vezes somos postos em situações que nos mostram os porões do nosso coração.
Nos vs, 10 e 11, Deus ensinou a Jonas o Seu coração de misericórdia. Ele disse:
“O SENHOR disse: Tens compaixão da planta, que não cultivaste nem fizeste crescer; que numa noite nasceu e na outra noite morreu. E não teria eu compaixão da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem discernir entre a mão direita e a esquerda, e também muito gado?”
Veja, em contraste ao coração de Jonas que era afeito ao seu próprio bem-estar, Deus revela o Seu coração: um coração compassivo, pronto a perdoar o pior dos pecadores, mesmo que isso lhe custe algo.
Em Jesus vemos esse coração de Deus. O coração de Jesus é o coração do Pai revelado no livro de Jonas, cheio de misericórdia. O Seu sacrifício de tornar-se homem e morrer na cruz, não lhe traria qualquer benefício. Ao contrário, segundo Paulo escrevendo ao Filipenses, Jesus deixou a Sua glória e tornou-se servo.
O sacrifício de Jesus não foi direcionado a pessoas boas. Tal qual Jonas e os ninivitas, somos rebeldes contra o Bom Deus.
Mas, foi exatamente por isso que o Senhor Jesus morreu por nós. Ele o fez, porque obedeceu ao Pai, com o coração do Pai, completamente misericordioso.
Sendo assim, somente Cristo nos liberta das trevas do nosso coração. Somente Cristo transforma o nosso coração em um coração que se alegra no Senhor, se alegra com a vontade do Senhor, com os planos do Senhor, ainda que isso nos traga algum prejuízo imediato.
Dessa forma, quero encorajá-lo a se prostar diante do Senhor nesse momento, e rogar ao Bom Deus que lhe dê um coração como o do Mestre. Um coração que a leve a servir ao seu marido, ainda que isso seja penoso para você; um coração que o leve a amar a sua esposa, ainda que ela não mereça; um coração que o leve a compartilhar o Evangelho para seus pais, amigos, parentes, ainda que isso lhe custe algo.
Pr. Nelson Galvão