Você sabe o que é a ostentação religiosa?
- indaiatubapibi
- 9 de abr.
- 5 min de leitura

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Você já deve ter ouvido falar do rei Luis XIV. Seu reinado se deu na França, entre 1643 e 1715.
Uma das principais curiosidades desse monarca francês foi seu apego pela ostentação. De acordo com a historiografia, muito tempo era dedicado à imagem real que envolvia o luxo de vestimentas, festivais, decorações e palácios. Não é à toa que ele ficou conhecido como o “rei sol”.
Para termos uma ideia de toda essa ostentação, basta olharmos para o palácio de Versailles que ainda hoje existe como um lembrete de onde a ostentação humana pode chegar. O palácio chegou a abrigar 7 mil pessoas da corte francesa, que passavam o dia a dia muito atarefados em vestir a melhor roupa, beber o melhor vinho, escutar a melhor música, mostrar a melhor dança, etc.
Olhamos toda essa ostentação e ficamos chocados. Entretanto, nem sempre paramos para pensar que essa ostentação pode se dar também no âmbito religioso.
O Apóstolo Paulo trata dessa ostentação religiosa em sua carta aos Gálatas.
Depois de cinco meses, neste domingo em nossa igreja, terminamos a exposição da carta de Paulo aos Gálatas. Esta carta é incrível e agora podemos entender por que Lutero se referiu a ela como “minha Katherina Von Bora – sou casado com ela”!
O ponto central da carta é a defesa da doutrina da justificação somente pela fé em Cristo, sem as obras da Lei.
O Apóstolo Paulo combateu veementemente aqueles que ensinavam que a fé em Cristo não basta, é preciso também praticar as obras da Lei para sermos salvos.
Por se deixarem levar por esse legalismo, Paulo usou expressões muito fortes para trazer saúde à fé galácia. Veja:
“Estou admirado de que estejais vos desviando tão depressa daquele que vos chamou pela graça de Cristo para outro Evangelho” (Gl 1.6).
“Ó gálatas insensatos! Quem vos seduziu? Não foi diante de vós que Jesus Cristo foi exposto como crucificado?” (Gl 3.1).
“Guardais dias, meses, tempos e anos. Temo que eu talvez tenha trabalhado inutilmente para convosco.” (Gl 4.10,11).
“Será que me tornei vosso inimigo por vos falar a verdade?” (Gl 4.16).
“Meus filhos, por quem sofro de novo dores de parto, até que Cristo seja formado em vós, bem que eu gostaria de agora estar presente convosco e mudar o tom da minha voz. Pois estou perplexo a vosso respeito.” (Gl 4.19,20).
“Corríeis bem. Quem vos impediu de obedecer à verdade?” (Gl 5.7).
“Quem dera se castrassem aqueles que vos estão perturbando!” (Gl 5.12).
Todas essas expressões mostram o tom de advertência que Paulo usou na carta, e esse tom revela a gravidade do que estava acontecendo.
Agora, a carta termina de um jeito realmente incrível! A ultima advertência de Paulo é Gl 6.11-18. Nessa advertência, Paulo faz uma comparação incrível entre os judaizantes e ele mesmo.
Veja as características dos judaizantes:
1-v.12b-Impozição da lei
2-v.12c-Indisposição a sofrer por Cristo
3-v.13 - Hipocrisia
Por que esse comportamento dos judaizantes? Qual era a fonte disso? Paulo menciona duas vezes nesse texto, no v. 12 e no 13. Veja:
“desejam ostentação exterior” (Gl 6.12);
“para se orgulharem de vós em rituais físicos” (Gl 6.13).
Ou seja, a fonte de todo o apego dos judaizantes pela Lei, era o orgulho. Não, sua preocupação não era a glória de Deus.
Aos Efésios, Paulo afirmou que a obra de Deus em nos redimir por meio de Cristo, tem o propósito do louvor da glória da sua graça (Ef 1.6). Entretanto, os judaizantes não estavam interessados nisso. O seu objetivo real era a própria glória.
Sim, todas as vezes que buscamos a salvação pelas obras, na verdade estamos buscando a glória própria, e não a glória de Deus. Os nossos esforços em agradar a Deus por meio das obras, na verdade escondem um profundo orgulho. Queremos a nossa própria glória.
E ávidos pelo desejo da glória, “ostentamos na carne”, conforme expressão usada por Paulo.
A ostentação religiosa é o zelo pela imagem de espirituais. Sim, nos sentimos muito bem com a imagem de “bom moço”; temos verdadeiro prazer em que as pessoas elogiem a nossa moralidade, o quanto somos corretos nos negócios; somos ávidos por ouvir aplausos a respeito de como o nosso casamento é um modelo e a educação dos nossos filhos está acima do padrão. Gostamos de ostentar a nossa “piedade”, o quanto oramos e somos conhecedores da Bíblia. Nos deleitamos em mostrar o quanto nos preocupamos com as pessoas e as ajudamos em suas dificuldades. Sim, secretamente desejamos ser consultados nas decisões e que nossas opiniões prevaleçam. Temos orgulho em dizer a que igreja pertencemos e como ela é melhor que todas as outras!
É claro que esse apego pela autoimagem é devidamente maquiado com a justificativa de que isso é “testemunho do Evangelho”.
Bem, na verdade, essa justificativa não tem nada a ver com o Evangelho. Isso porque quem é glorificado nos elogios que recebemos não é Cristo, mas sim, nós mesmos. A glória é toda daquele que recebe o elogio.
Então, o apego à imagem de “bom moço” na verdade aponta para o nosso mais profundo, escondido, enraizado e horrendo orgulho. Todos nós temos um “rei sol” dentro de nós!
E só existe uma solução para isso. Paulo indica em Gl 6.14:
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Ou seja, o apego de Paulo por sua própria glória foi renunciado e redirecionado para a glória de outro, daquele que realmente merece toda glória: Jesus Cristo.
Essa glória a qual Paulo se refere é a alegria exultante que temos na dádiva graciosa da salvação, que é concedida por meio da fé na morte expiatória do Deus que se fez homem, Jesus Cristo.
Então, a obra de redenção efetuada no crente, por meio do sacrifício de Cristo, faz com que o mundo seja crucificado para ele. Ou seja, o apego pela glória do mundo é renunciado. Em outras palavras, o “rei sol” em nós morre.
Dessa forma, o único apego que temos é pela imagem de Cristo em nós. Dito de outra forma, ao invés de esconder nossos pecados, falhas e limitações, fazemos questão de mostrar o quão pecadores somos e como é majestosa a graça de Deus revelada em Cristo, que nos redimiu, nos transformou e segue nos fazendo mais parecidos com Cristo.
Assim, não temos imagem de “bom moço” a zelar para a nossa(o) esposa/marido, ou para os nossos filhos, ou para os nossos pais, nem para os irmãos. Nos juntamos a Paulo na afirmação “eu sou o principal dos pecadores” (1 Tm 1.15). O “rei sol” morreu em mim e deu lugar ao verdadeiro Sol da Justiça, Jesus Cristo.
pr.Nelson Galvão
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