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Por que tanto ódio contra os judeus?




Estamos todos horrorizados com as recentes notícias do ataque do grupo terrorista Hamas à nação de Israel. A violência e crueldade com que tratam os civis são a mais horrenda barbárie.


O que me traz ainda mais indignação é ver alguns da impressa brasileira relativizarem os ataques. Alguns afirmam que os ataques são consequência de décadas de desmandos por parte de Israel na região. A partir de uma leitura de viés marxista da situação explicam os ataques dos Hamas como um grito dos excluídos contra o opressor capitalista israelita.


Essa leitura é de uma ignorância histórica chocante e, por isso, gostaria de rapidamente revisitar a história e assim minimamente contribuir com uma reflexão mais acurada dos fatos. Para tanto, quero trazer aqui uma análise mais histórica (ainda que breve) do que teológica.


O antissemitismo e sua origem


O antissemitismo é o ódio contra judeus e ele tem origens remotas. Podemos mencionar aqui as diversas perseguições sofridas durante a Idade Média, em que os judeus foram proibidos de praticar certos ofícios artesanais. Como os cristãos não podiam emprestar dinheiro para juros por motivos religiosos, eles deixavam esse negócio "desonroso" para os judeus. O judeu que se tornou rico como credor foi odiado ainda mais, por essa mesma razão.


O antissemitismo como o vemos hoje tem suas origens no início da era moderna. No séc. XIX, na Rússia, na visão da igreja ortodoxa, os judeus procuravam minar a ortodoxia russa e o czar, os próprios fundamentos da sociedade russa. Sendo assim, a igreja e as autoridades czaristas aprovaram - e até mesmo encorajaram – pogroms (autorização de ataques físicos da população aos judeus) contra os judeus em 1881-82, e novamente em 1905.


Foi nesse contexto russo que surgiu também os “Protocolos dos Sábios de Sião”. Estes documentos falsos descreviam uma suposta conspiração judaica internacional para conquistar o mundo, subvertendo a ordem social através do liberalismo econômico, da Maçonaria e de outros movimentos modernos. A invenção surgiu na virada do século 20 e se provou uma falsificação em 1921. Apesar dessa demonstração, os Protocolos foram amplamente usados ​​na propaganda antissemita na Europa, nos Estados Unidos e no mundo árabe até o século XXI.


No séc. XX, judeus e cristãos caminharam em direção à compreensão mútua. Embora muitos cristãos continuassem mantendo atitudes irracionais e hostis em relação aos judeus, algumas vozes cristãs foram levantadas contra o antissemitismo. Nos EUA, a Conferência Nacional de Cristãos e Judeus foi fundada em 1928 em resposta ao antissemitismo virulento propagado no jornal de Henry Ford, o Dearborn Independent. Alguns líderes cristãos falaram durante a década de 1930 contra a perseguição nazista aos judeus, mas a maioria dos líderes cristãos na Europa permaneceu em silêncio, mesmo durante o Holocausto.


Entretanto, em 1946, o Conselho Mundial de Igrejas denunciou o antissemitismo, e em 1965 o Concílio Vaticano II da Igreja Católica Romana adotou uma maior tolerância sobre os judeus e outras religiões não-cristãs. O papa João Paulo II fez das relações melhoradas entre católicos e judeus uma característica de seu papado. Embora permaneçam muitas dificuldades relacionadas à questão do lugar que o sionismo e o Estado de Israel possuem no judaísmo, as formas mais antigas de antissemitismo da igreja oficial foram radicalmente diminuídas.


No fim do séc. XIX, os judeus eram o símbolo do que era mais odioso no mundo “capitalista ocidental injusto”. Isso se explica pelo seu compromisso com as ideias do Iluminismo e da Revolução Francesa que os tinham emancipado e, ao fazê-lo, os haviam tornado mais visíveis. De acordo com o historiador Hobsbawn:


Eles podiam servir como símbolos do odiado capitalista/financista; do agitador revolucionário; da corrosiva influência dos “intelectuais sem raízes” e dos novos meios de comunicação; da competição — como poderia ela ser outra coisa que não “injusta”? — que lhes dava uma fatia desproporcional dos empregos em certas profissões que exigiam educação; e do estrangeiro e forasteiro como tal. Para não falar da visão aceita entre os cristãos antiquados de que eles tinham matado Jesus. A antipatia aos judeus era de fato difusa no mundo ocidental, e a posição deles na sociedade do século XIX ambígua. [...] O antissemitismo camponês da Europa Oriental, onde para fins práticos o judeu era o ponto de contato entre o ganha-pão do aldeão e a economia externa de que sempre dependera, era sem dúvida mais permanente e explosivo, e tornou-se mais ainda quando as sociedades rurais eslavas, magiares e romenas foram convulsionadas pelos incompreensíveis terremotos do mundo moderno. Entre povos tão sombrios ainda se podia acreditar nas histórias de judeus sacrificando crianças cristãs, e os momentos de explosão social levavam a pogroms que os reacionários do império do czar estimulavam, sobretudo após o assassinato do czar Alexandre II em 1881 por revolucionários sociais[1].

Ainda no século XIX, os antissemitas inventaram a "ciência" da raça humana. Eles alegavam que havia uma raça humana, os arianos, com qualidades particularmente boas - corajosas, bonitas e inteligentes - as raças de cavalheiros às quais elas naturalmente pertenciam. Outras raças seriam "inferiores", mesquinhas, sorrateiras, desonestas - a "raça judaica", por exemplo.


O livro Mein Kampf (minha luta), de autoria de Adolf Hitler, foi publicado em 1925. Nesse livro Hitler afirma suas ideias antissemitas. Ele obteve grande sucesso de circulação e tornou-se um guia ideológico para os nazistas. Ainda hoje exerce influência sobre os neonazistas. Neste livro Hitler afirma que o judaísmo é um "fermento de decomposição" dos povos e raças e, em sentido mais vasto, de ruína da cultura humana.”[2] (Hitler, Adolf. Mein Kampf. p. 412). Por outro lado, os arianos seriam uma raça superior. De acordo com Hitler:


Tribos arianas [...] subjugam povos estrangeiros, desenvolvendo, então, animadas por condições especiais da nova região (fertilidade, clima etc.), favorecidas pelo número avultado de auxiliares da raça inferior, suas latentes capacidades intelectuais e organizadoras. Elas criam, freqüentemente, em poucos milênios e até em períodos de séculos, civilizações, que, de começo, revelam integralmente os traços íntimos da sua individualidade adaptados às propriedades específicas do solo como dos homens por elas subjugados. Por fim acontece, porém, que os conquistadores pecam contra o princípio - observado no começo - da pureza conservadora do sangue- dão para misturar-se com os habitantes subjugados, e põem termo com isso à sua própria existência [...] Depois de um milênio ou mais, transparece freqüentemente o último vestígio visível do antigo povo dominador, na coloração mais clara da pele, deixada pelo seu sangue à raça vencida e também em uma civilização entorpecida, criada por ele primitivamente para ser a geradora das outras[3].

A partir da teoria racial e de todos os preconceitos que existiam contra cidadãos judeus, foi que o nazismo de Adolf Hitler se desenvolveu.


Em 1933, Adolf Hitler foi eleito chanceler alemão. Dentro de alguns anos seu governo restringiu os direitos dos cidadãos alemães de fé judaica, além de que não foram autorizados a exercer quaisquer profissões, ou estudar.


Os judeus tinham que usar uma estrela amarela de pano em suas roupas e depois de alguns anos eles não podiam mais viver em todos os lugares – somente nos guetos.


A população não judia foi chamada a não comprar nas lojas que pertenciam aos judeus. Em 10 de novembro de 1938, as sinagogas foram incendiadas e lojas judias foram destruídas por toda a Alemanha.


Muitos judeus fugiram para o exterior, mas havia muitos outros que não queriam sair. Eles esperavam que o pior acabasse logo. Mas o pior ainda estava por vir.



O Holocausto


A pior perseguição aos judeus de toda história aconteceu na Alemanha durante o governo do partido Nacional-Socialismo de 1933 a 1945.


O uso do termo Holocausto é controverso. A palavra grega holókaustos ("completamente queimadas") refere-se à antiga prática religiosa de queimar animais como oferendas.


Em 1979, após a transmissão da série de televisão "Holocausto - A história da família White", o termo passou a designar o genocídio judeu na Alemanha.


A aniquilação dos judeus europeus foi um objetivo declarado dos nazistas. Este objetivo deveria ser alcançado pela deportação, isolamento em guetos e campos de concentração, execuções em massa e assassinatos em câmaras de gás.


Em 1939 Hitler atacou os países vizinhos da Alemanha. A Segunda Guerra Mundial começou. As leis contra os judeus também entraram em vigor nos países ocupados. Em 1942, a chamada "Solução Final para a Questão Judaica" começou - todos os judeus deveriam morrer.


Por toda a Alemanha e na Europa ocupada, os judeus foram retirados dos guetos, reunidos e levados para os "Konzentrationslager" (Campos de Concentração), onde foram forçados a trabalhar. Desde a viagem de trem nos vagões lotados, morriam muitas pessoas. Ao chegar no Campo de Concentração, os supervisores decidiam quem deveria ser morto imediatamente. Aqueles que pareciam fortes o suficiente, eram destinados a fazer trabalhos pesados. Um dos piores campos de concentração foi Auschwitz na Polônia de hoje. Apenas em Auschwitz, mais de um milhão de pessoas foram assassinadas.


Quando a guerra finalmente terminou em 1945, com a derrota do Reich alemão, os números assustaram. No total, de acordo com um estudo do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, havia na Alemanha 1.150 guetos judeus.


Foram construídos 30 mil campos de trabalho forçado, 980 campos de concentração, 1.000 campos de prisioneiros de guerra, 500 bordéis com escravos sexuais e milhares de outros campos usados para programas de "eutanásia" nazistas. No fim, 5,6 a 6,3 milhões de judeus foram assassinados. O Holocausto é chamado em Israel e no judaísmo como Shoa ("catástrofe", "grande desgraça").



O Sionismo


O holocausto impulsionou o movimento que já tinha tomado forma há muito tempo, o “Sionismo”. Esse é um termo que se refere ao movimento de retorno do povo judaico a Sião.


O movimento sionista esforçou-se pela emancipação dos judeus, transformando-os em uma nação como todas as outras nações.


O sionismo reagiu às contendas antissemitas de que os judeus eram estrangeiros na sociedade europeia e jamais poderiam esperar ser integrados a ele em números significativos. Assim, transformou essa acusação em uma premissa básica de um programa de regeneração e reassentamento nacional.



1948: o Moderno Estado de Israel


Logo depois do término da Segunda Guerra Mundial (1945), em 1947 a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a United Special Committee on Palestine. Esse Comitê tinha a missão de elaborar um plano de divisão do território Palestino. A ideia era que a Palestina fosse dividida em dois Estados: um judeu e outro árabe. Jerusalém e Belém ficariam sob controle Internacional. Em 29 de Novembro de 1947 o plano foi aprovado – a sessão foi presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha (em sua homenagem há uma rua em Tel Aviv que leva seu nome[4]). 56 dos 57 países membros da ONU se encontravam representados (a Tailândia estava ausente). Destes, 33 votaram a favor do Plano, 13 votaram contra e 10 se abstiveram.


Entretanto, imediatamente os Estados Árabes reagiram. A guerra árabe-israelense de 1948 ficou conhecida como a Guerra de Independência. Os exércitos árabes compostos pelo Egito, Síria, Iraque, Jordânia, Líbano e Arábia Saudita (perceba que todos os vizinhos de Israel) atacaram Israel por três diferentes frentes. Entretanto, Israel conseguiu conter os ataques e em 1949 foram assinados vários acordos de cessar-fogo. A Guerra de Independência de Israel é lembrada pelos Palestinos como “A Catástrofe”.


Inconformados com a criação do Estado de Israel, o nacionalismo árabe ascendeu nas décadas de 1950 e 1960, que liderado por países como Egito, Síria e demais países da Liga Árabe, culminou na Segunda Conferência do Cairo (1964). Nessa conferência foi declarada abertamente que um dos seus objetivos principais era a destruição do Estado de Israel.


Em 1967, eclodiu a guerra dos Seis Dias. Israel foi atacado pela coalização do Egito, Síria, Jordânia e Iraque, que, por sua vez, receberam o apoio de Kuwait, Líbia, Arábia Saudita, Argélia e Sudão.


A vitória foi de Israel, que tomou a região da Cisjordância e Jerusalém Oriental (controladas pela Jordânia) e a Faixa de Gaza (administrada pelo Egito). Desde então, em meio a outros conflitos, o país anexou Jerusalém Oriental e continuou a ocupar a Cisjordânia. Em 2005, Israel se retirou da Faixa de Gaza.


Perceba, Israel é um Estado democrata, de cultura judaica (com apoio das maiores nações cristãs do mundo, principalmente EUA), com economia livre e punjante, mas que se encontra rodeado de países totalitários, de cultura islâmica e fortemente voltada contra o que conhecem como "Ocidente".


É diante disso que grupos terroristas como o Hamas e o Hezbollah têm atacado Israel continuamente. Não é porque são oprimidos, mas porque querem a aniquilação de Israel como nação.


Sendo assim, é de um reducionismo grotesco encarar o conflito Israel-Palestina sob a ótica marxista (opressor-oprimido). O que está envolvido vai muito além do que alguns jornalistas nos querem fazer crêr.


É óbvio que dá pra entender a necessidade da criação do Estado Palestino, mas é impossível sentar-se à mesa de negociação com grupos terroristas financiados por ditaduras, cujo objetivo principal é aniquilar Israel e tudo o que ele representa.


Por fim, esse triste episódio da recente história da Palestina, e como tem sido tratado por alguns da mídia, nos alerta mais uma vez à guerra cultural que estamos envolvidos. A guerra ideológica nos bate à porta e conclama à que nos posicionemos firmemente à favor da verdade.


pr. Nelson Galvão


Referências

[1]HOBSBAWN, Eric. A Era dos extremos. p. 99 [2] Hitler, Adolf. Mein Kampf. p. 412 [3]Ibid. p. 276 [4] Outros brasileiros também participaram efetivamente no auxílio aos judeus na época do Holocausto. Um site Israelita no Brasil (www.menorahnet.com.br) menciona Aracy Guimarães Rosa, funcionária do consulado em Hamburgo, na Alemanha, e Luís Martins de Souza Dantas, embaixador brasileiro em Paris, na França. Estes ajudaram na concessão de vistos para salvar aqueles que estavam sendo perseguidos por Hitler. Hoje, o nome dos dois está no Jardim dos Justos do Museu do Holocausto, em Israel. Fonte: https://www.menorahnet.com.br/485-4/


Para consulta


BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro, Zahar, 1998.

BEREZIM, Rifka. Caminhos do povo judeu. Vol. III. São Paulo: Federação Israelita, 1981.

BORGER, Hans. Uma história do povo judeu. Vol. 1 – de Canaã à Espanha. São Paulo: Sefer, 1999.

DONNER, H. História de Israel e dos povos vizinhos. Vol I e II. Petrópolis: Vozes, 1997.

EISENSTADT, S. N. Sociedade israelense. São Paulo, Perspectiva, 1977.

HITLER, Adolf. Mein Kampf. São Paulo: Editora do Carmo, 2016. p. 412

HOBSBAWN, Eric. A Era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 99

NEIVA, Artur Hehl. Estudos sobre a imigração semita no Brasil. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1945.

RATTNER, Henrique. Nos caminhos da Diáspora. São Paulo: Centro Brasileiro de Estudos Judaicos, 1972.

SORJ, Bila. Identidade judaica no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Centro Edelsteia de estudos sociais, 2008.

VAINFAS, Ronaldo, 1956- Jerusalém colonial: judeus portugueses no Brasil holandês. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

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