Há esperança para a sua família
Que tipo de família você tem? “Normal, eu acho”!!! Talvez essa seja a resposta imediata à pergunta. Mas, “normal” não define mais nada! A sociedade mudou! Sim, a partir da segunda metade do séc. XX, o ocidente assistiu a uma série de mudanças que foi concebida pela forma de pensar inaugurada pelo Iluminismo do fim do séc. XIX. Essas mudanças podem ser facilmente percebidas nas artes, ciência, religião, instituições, família.
Uma das marcas principais dessas mudanças é a desconstrução de valores cristãos. Adriana Caldas identifica essa tendência em sua tese de doutorado (USP/2010) apontando para o surgimento de novas modalidades de família na atualidade. Em sua tese ela identifica que no Brasil, por conta do processo de descontrução de valores cristãos, emerge a convicência de diversas modalidades de família: família casamentária, família formada na união estável, família concubinária, monoparental, homossexual e formada nos estados intersexuais.
“A sociedade vem se conscientizando de que existem outras possibilidades de relacionamento a serem aceitas. Desta sorte, legiões de homens e mulheres, com diversa orientação sexual, começam a experimentar novas formulas de relacionamento afetivo, do namoro ao casamento, com todas as repercussões e desdobramentos daí decorrentes, donde se destaca uma maior abertura à tolerância e à diversidade[1]”.
Entretanto, mesmo que haja um processo acentuado de desconstrução de valores cristãos na sociedade moderna, ainda assim perduram aquelas famílias que continuam apontando para Cristo.
O que quero dizer com uma família que aponta para Cristo? Vejamos a carta de Paulo aos Colossenses.
A composição dessa carta aconteceu durante o aprisionamento de Paulo em Roma, no final de 61. D.C. O que levou Paulo a escrever a carta era uma séria ameaça à Igreja, uma heresia sincrética que infectava Colossos. Essa heresia reunia elementos do judaísmo e misticismo. Com isso, feria diretamente a doutrina da suficiência de Cristo.
Assim, inspirado pelo Espírito Santo, Paulo apresenta uma defesa vigorosa de Cristo, afirmando que Jesus é supremo e, portanto, suficiente. No cap 1.15-17, Paulo afirma categoricamente a identidade de Cristo: Ele é Deus; Ele tem a primazia; Ele é o Criador; Ele é eterno e o sustentador.
Dessa forma, por ser quem é, Cristo tem amplas prerrogativas para realizar o que veio fazer. Assim, Ele nos libertou (1.13), nos fez Sua Igreja (1.18), nos reconciliou com todas as coisas e com o Pai (1.18-20), nos deu vida, nos perdoou, nos redimiu (2.13,14). Portanto, toda a obra de Cristo é amplamente suficiente para nós.
Agora, a partir do cap. 3, Paulo muda o tom da carta e começa a advertir os crentes de Colosso a que vivam à luz da obra de Cristo por eles. Assim, em Cl 3.1-11, Paulo afirma que a obra de Cristo resulta, para o crente, em nova vida, marcada agora pela dedicação exclusiva a Ele. Essa nova vida tem reflexos no caráter do cristão, na sua vida em comunidade e até mesmo na sua família.
É nesse ponto então que Paulo trata sobre a família (Cl 3.18-23). Perceba que nessa altura da carta ele trata dos aspectos da família que apontam para Cristo. Assim, Paulo afirma que aqueles que têm uma nova vida devem ter uma família centrada em Cristo.
Por que me refiro a uma família centra em Cristo? Perceba comigo a incidência da palavra “Senhor” nesse texto: v. 18, 20, 22, 23, 24, 4.1.
É por isso que se trata de uma família que é centrada em Cristo. É a família cujo a configuração, afetos, ações, forma de pensar, têm como referência o senhorio de Cristo. Acompanhe:
1. A família centrada em Cristo deve ser monogâmica e heterossexual
Veja que o texto menciona um marido e uma esposa, bem como homem (macho) e mulher (fêmea).
2. A família centrada em Cristo deve ser liderada pelo marido – (v 18).
Isso soa estranho para a nossa sociedade. Por isso Paulo é tachado como machista, retrogrado, com o pensamento confinado a uma cultura patriarcal. Segundo a nossa cultura, o correto é ter no lar uma liderança compartilhada, igualitária.
Entretanto, proponho duas perguntas para pensarmos:
a. Quem determina a inspiração das Escrituras? O que determina o que é para a nossa época ou não no texto bíblico: a nossa cultura ou o próprio texto bíblico?
b. Se Paulo estava tão grosseiramente errado em questões básicas, como ele poderia estar certo em questões basilares para o cristianismo, como a divindade de Cristo e Sua ressurreição (as quais ele afirma apenas poucos versos antes do cap. 3)?
3. A família centrada em Cristo deve ser liderada por um marido amoroso (v. 19)
O pecado transformou a liderança masculina em tirania. Mas Cristo transforma o nosso coração e nossos relacionamentos. Em Cristo, o marido passa a exercer liderança, mas uma liderança amorosa, sacrificial. Uma liderança que apascenta o coração de sua esposa, a orienta nos caminhos tortuosos da vida.
O homem que trata sua esposa com aspereza, rudez, frieza, não entendeu o chamado de Cristo para a sua função como marido.
4. A família centrada em Cristo deve ter filhos obedientes e pais coerentes (v. 20).
A sociedade enaltecesse a rebeldia dos jovens e despreza a velhice. Por conta da psicologização da sociedade, hoje vive-se uma verdadeira ditadura da juventude sobre os mais velhos. É curiosa a reportagem de capa da revista Veja (18/02/2009): “Eles é quem mandam”. Veja a chamada:
“Um retrato dos adolescentes de hoje: eles são os reis da era digital, decidem o que a família vai comprar, custam caríssimo, mas estão mais desorientados do que nunca”.
Uma família centrada em Cristo tem pais que lideram seus filhos ao invés de serem reféns deles. Os filhos aprendem a obedecer a seus pais, porque são tementes ao Senhor, enquanto seus pais os educam com sabedoria quem vem das Escrituras.
Perceba que não estou falando de uma família perfeita. Longe disso! Trata-se de configurações familiares determinadas por pessoas pecadoras que foram redimidas por Cristo.
Ok, mas por que essas configurações familiares apontam para Cristo? Lembre-se que desde o começo da carta de Paulo aos Colossenses, ele fala da obra de Cristo e o resultado dessa obra. Muito bem, no caso da família, a obra de Cristo a restaura de acordo com o projeto inicial de Deus.
Valorizo a história. Gosto de construções antigas. Elas são testemunhas do passado. No Recife e Olinda existe muita história. São muitos casarões da época colonial (Quem já visitou o centro histórico de Olinda sabe que é possível ter um gostinho de séculos de história do Brasil). Infelizmente alguns desses casarões foram praticamente destruídos pela ação descuidada de governos. Mas nos últimos anos algumas instituições têm tido certo cuidado na preservação/restauração do patrimônio histórico. Daí é possível ver no Marco Zero em Recife, por exemplo, alguns casarões que antes eram muito deteriorados, agora totalmente restaurados.
Como todos os âmbitos da existência humana, a família foi desfigurada pelo pecado (Gn 3,4). A relação entre marido e mulher passou a ser marcada pela acusação, competição, opressão e confusão de papéis. Pais passaram a ser omissos na educação de seus filhos que, por sua vez, rebelam-se contra a liderança dos pais.
Talvez sua família tenha sido grandemente afetada pelo pecado. Provavelmente um divórcio, o adultério, filhos rebeldes, um casamento apenas aparente, ou uma relação homoafetiva. Talvez o pecado já tenha marcado de tal forma a sua família que as configurações familiares planejadas pelo Criador não sejam mais uma realidade na sua experiência.
Existe esperança! Essa esperança não está em aceitar as novas formas de família, mas em Cristo, o único que pode restaurar a nossa família. A obra de Cristo é amplamente suficiente para restaurar o homem, desfigurado por sua própria rebeldia contra o Criador. Cristo restaura o nosso relacionamento com Deus e uns com os outros. Famílias que outrora foram destruídas pelo pecado podem agora, em Cristo, tornar-se templos de adoração ao Senhor Jesus Cristo.
pr. Nelson Galvão
Referências [1] Adriana Caldas Maluf. Novas modalidade de família na pós-modernidade. Tese de doutorado (USP/2010).
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