Uma jovem enfrenta um imenso problema. Ao superá-lo, torna-se mais grata e confiante. Outra vive semelhante experiência, mas a superação a leva a ser indiferente e cética. Uma senhora sobrevive a uma calamidade e começa a olhar a vida como uma nova chance cheia de esperança. Outra passa por uma calamidade da mesma proporção e se torna triste e desesperançosa.
Não são apenas as circunstâncias que fazem alguém mudar. E quando alguém muda, nem sempre é uma boa mudança. Então, o que pode nos levar a uma transformação positiva? Será que EU e VOCÊ podemos mudar para melhor?
Na Palavra de Deus encontramos respostas para essas perguntas e muitos exemplos inspiradores. Alguns deles estão no pequeno livro de Rute; em apenas quatro capítulos, há muitas transformações: de circunstâncias, de fé, de coração, de condição social, de estado civil... Uma dessas transformações me surpreende muito, pois seria a personagem da qual eu menos acreditaria em mudança. Uma mulher mais velha, que viveu imensas dores, que perdeu muito e se declarava abertamente amargurada. Estou falando da sogra de Rute: Noemi.
Acompanhe este resumo:
Capítulo 1
Noemi foi obrigada a viver em uma terra que lhe era estranha para acompanhar seu marido e fugir da fome que havia onde morava. Naquele lugar seu marido morreu. Alguns anos depois, seus dois filhos também morreram. Como você se sentiria? Noemi sentiu que o próprio Deus estava contra ela e que sua situação era pior que a das outras pessoas, conforme disse às suas noras: “... para mim é mais amargo do que para vocês, pois a mão do Senhor voltou-se contra mim” (Rt 1.13b).
Noemi decidiu voltar para sua terra natal e a nora Rute a acompanhou. Será que, ao chegar bem em um lugar familiar e tendo a constante companhia de uma nora tão dedicada, ela se sentiu melhor? Veja o que ela falou: “Não me chamem Noemi, melhor que me chamem de Mara, pois o Todo-poderoso tornou minha vida muito amarga! De mãos cheias eu parti, mas de mãos vazias o Senhor me trouxe de volta. Por que me chamam Noemi? O Senhor colocou-se contra mim! O Todo-poderoso me trouxe desgraça!” (Rt 1.20-22).
Essas palavras revelam infelicidade e ingratidão a Deus, profunda tristeza quanto ao passado e sem qualquer perspectiva para o futuro.
Capítulo 2
Rute, a nora, decidiu sair para trabalhar e tentar conseguir alimento para as duas. Ela compartilhou essa ideia com Noemi, que apenas lhe disse: “Vá, minha filha” (Rt 2.2b). Noemi não incentivou, não deu nenhum conselho (afinal, agora era a nora que estava em uma terra estranha), não se propôs a ir junto nem sequer agradeceu a disposição de Rute. Desânimo total. Um presente sem propósito. Noemi não devia ser uma pessoa fácil de conviver...
Naquele dia, Deus levou Rute a trabalhar nas terras de um homem chamado Boaz, que era parente de seu sogro. Lá conseguiu muito alimento e, ao chegar em casa, contou tudo à sogra. Então temos uma fala inesperada por parte de Noemi. Inesperada, pois é uma exclamação positiva: “Seja Boaz abençoado pelo Senhor, que não deixa de ser leal e bondoso com os vivos e com os mortos!” (Rt 2.20b).
Poderíamos pensar que a esperança por ter ajuda de um conhecido foi o que modificou o coração de Noemi. Mas isso seria equivocado, pois Noemi já havia contado com a ajuda de Rute e isso não a transformou. Ao chegar na sua cidade, as pessoas lembravam dela e poderiam ter trazido esperança (Rt 1.19), porém isso também não trouxe qualquer impacto à Noemi.
A diferença é que nesse momento Noemi reconheceu atributos verdadeiros de Deus: “Seja Boaz abençoado PELO SENHOR, que não deixa de ser LEAL E BONDOSO...” E quando ela diz “leal e bondoso COM OS VIVOS E COM OS MORTOS” (Rt 2.20b), podemos entender que ela reconheceu que a bondade de Deus estava inclusive no seu passado doloroso.
Capítulo 3
Noemi surgiu renovada e cheia de esperança! Traçou planos para Rute, deu uma série de conselhos e instruções para que ela conseguisse se casar com Boaz.
Capítulo 4
Deus uniu Boaz e Rute, e ainda deu um filho ao casal! Noemi pegava o bebê no colo e cuidava dele como se fosse seu neto de sangue (Rt 4.14-17). A transformação e alegria de Noemi eram tantas que seu testemunho ficou evidente para quem a via. Veja o que disseram: “LOUVADO SEJA O SENHOR, que hoje não a deixou sem resgatador! Que o seu nome seja celebrado em Israel! O menino lhe dará nova vida e a sustentará na velhice, pois é filho da sua nora, que a ama e que lhe é melhor do que sete filhos!” (Rt 4.14,15).
A Noemi que antes extravasava amargura agora era motivo de celebração e de louvor para o nome de Deus!
Deus leal e bondoso
Lembre-se: mesmo quando Noemi já estava na sua cidade natal e tinha o constante cuidado de Rute, seu coração continuava devastado. Adiante, Noemi permanecia nessas circunstâncias, ainda era viúva e lembrava a morte de seus filhos, contudo, passou por uma imensa transformação. A transformação iniciou quando Noemi reconheceu a bondade de Deus em seu passado e presente.
Passarmos por sofrimento e situações difíceis é inevitável. Porém, não são essas provações que nos definem ou nos fazem mudar. O conhecimento e o relacionamento que temos com Deus, enquanto vivemos essas experiências, é o que pode alterar nossa história.
Podemos viver essas situações e mergulhar na dor que elas nos causam. Ou podemos crer na bondade salvadora do Todo-poderoso, confiando que mesmo nos momentos mais escuros da alma, ele está conosco e usará cada desafio para nosso aperfeiçoamento, afinal, “considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma” (Tg 1.2-4).
Já foi dito que “podemos confiar em um Deus sábio, amoroso e soberano para controlar todas as circunstâncias de nossa vida. A alegria, a paz e a estabilidade vêm de acreditar que cada circunstância que envolve nossa vida foi previamente filtrada por entre seus dedos amorosos e faz parte de um grande e eterno plano que ele está realizando neste mundo e em nossa vida.”[1]
Você tem vivido uma situação dolorosa? Ela não vai pesar nem durar mais do que o Senhor permitir. E o que ele permitir estará adequado aos propósitos de um Deus “que não deixa de ser LEAL E BONDOSO” (Rt 2.20b). Que as pessoas possam olhar para nossas vidas e glorificar a Deus por ele estar nos transformando em mulheres cada vez mais gratas e piedosas, independente das circunstâncias.
Aletea Hoffmeister Mattes
Aletea é casada com Jônatas, mãe da Isabel e do Rafael.
É membro da Primeira Igreja Batista em Indaiatuba.
É Mestre em História da Arte e autora do livro "Do Lar ao Coração", ed. Peregrino.
Referência
[1] Nancy Leigh DeMoss, “Mentiras em que as mulheres acreditam e a Verdade que as liberta”. São Paulo: Vida Nova, 2013. Pg 217.
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